sábado, 3 de dezembro de 2011

O Porto



É curioso como o ser humano tende a fazer besteiras por puro impulso. Falo isso por experiência própria, não que eu me arrependa de algo que eu tenha feito. Costumo dizer que me arrependo só do que não fiz, ou do que deixei de dizer.
Nos últimos dias tenho refletido bastante sobre onde a vida me trouxe.
No começo admito que certo arrependimento me afligiu, mas depois me permiti lembrar que não devemos ter medo de nossas escolhas, devemos sim, confiar e apostar tudo o que temos nas coisas que depositamos fé pois estas já se fazem importantes e fundamentais pelo simples fato de terem se estabelecido.
É estranho, pois sinto um vazio enorme pelo que supostamente deixei pra traz. Mas por outro lado um lindo caminho iluminado se mostra a frente, e eu me encontro no meio sem saber se devo retornar e tentar tapar o buraco do passado, ou prosseguir e alimentar o futuro incerto.
No primeiro dia dessa nova fase, andei pela cidade meio que fazendo um ritual de “fechamento de ciclo”. O cheiro de mofo impregnava o ar, e eu só podia ouvir o zumbido do silencio dentro de mim. Nunca fui bom com palavras e por isso não disse uma palavra se quer.
Cheguei ao aeroporto e já podia sentir que o meu mundo ia mudar dali a pouco, que tudo o que eu conhecia ia dar espaço a novos sentimentos, alegrias, ambições, e por que não, tristezas. Sim por que não acredito em felicidade absoluta, acho que só é feliz absolutamente quem engana a si mesmo, ou quem já morreu. A felicidade vem dependendo do momento, do estado de espírito, e se vai chover ou não.
Despedi-me do momento mas não disse “adeus” em nenhum momento. Não digo adeus à quem amo. Disse adeus somente ao momento, e este se foi.
E houveram lágrimas, e houve silencio, e houveram flashes de pensamentos passados. E então o presente tornou-se passado, e o passado tornou-se lembrança.
“Anseio de ir sempre além, vontade de nunca parar. Jamais porto tão sedutor a ponto de me fazer ancorar. Antes o tropeço que impulsiona, do que a mão que só afaga” (O Porto – Agridoce).

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Sobre a coleção



Dia desses vivenciei um momento um tanto quanto incomum. Comuniquei a certa pessoa que eu irei morar fora, em outra cidade. Repentinamente ela calou-se e começou a chorar. Desde então venho refletindo sobre a saudade.
É curioso como sete letras podem causar enormes vazios e destruir muralhas interiores do espírito. Acredito que isso acontece pelo fato do ser humano sentir medo de enfrentar a jornada desconhecida que é o futuro, e a partir do momento que uma pessoa forma laços com outra, esta se torna parte dela. Logo, pessoas temem que pessoas ligadas à ela, se arrisquem e sofram.
Na minha humilde opinião saudade é um pouco de egoísmo. É como quando uma criança tem vários carrinhos mas não pode dar atenção a todos, porém cai em prantos se um carrinho é perdido.
Sinto-me honrado por ser um carrinho muito bem cuidado, e por participar da coleção de um número considerável de pessoas. Gostaria que estas soubessem que nem sempre é possível manter a coleção intacta. Hora ou outra um carrinho se extravia ou acaba sendo perdido. Porém este provavelmente será achado, e restaurado por outra pessoa, e fará outros corações felizes. Certas vezes que o carro até consegue retornar à sua coleção original. Caso ele não volte, ele pode não estar lá em forma física, porém nunca deixará de fazer parte da coleção.
"Lembrarás que teus mais marcantes momentos foram os que algo te desafiou. A vida sem desafios, é morta"

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Rocha


Passava da meia noite. Ele estava mais uma vez trancado em seu quarto que cheirava a tabaco e lençóis úmidos. Resolveu então sair para tentar colocar ideias no lugar.
Apanhou seu maço de cigarros e uma garrafa de vodka quente que estava a tempos na estante da sala. Vestiu seu jeans frio e meio úmido. Saiu na noite chuvosa, sem rumo.
Pensou em ir para a casa de amigos. Mas que amigos? Sentiu-se só.
Seguiu caminhando e chegou em uma praia que estava deserta, visto a hora.
Sua atenção manteve foco nas grandes pedras que apareciam distantes contra o nascer tímido do sol.
Deitou-se na areia morna e percebeu que ele estava morno também.
Fumou e bebeu. Já estava cansado de tentar alcançar metas, objetivos já tidos como sem sentido. Cansado de batalhar e saber que o fim é o fim.
Continuou lá, imóvel, em sua agonia pessoal e então teve uma ideia. Pensou que se colocasse um fim em sua vida, aquela agonia talvez passasse. Porém isto também era uma incerteza. Ele não saberia dizer, nunca havia morrido.
No fim das contas, resolveu deixar-se vivo, afinal era covarde demais para suicídio, ou forte demais. Ele não sabia dizer ao certo
Tragou o cigarro com vigor. Seus problemas na respiração manifestaram-se mas isso pouco o preocupava. Tragou mais uma vez e sentiu um aperto no peito. Sua visão escureceu e então ele finalmente sentiu paz. Já não estava mais morno como a areia da praia, e sim frio como as rochas do horizonte.

“E um dia se atreveu a olhar pro alto, tinha um céu mais não era azul. No cansaço de tentar quis desistir, se é coragem eu não sei...” (Pulsos – Pitty)

terça-feira, 31 de maio de 2011

Sobre o que quero


Comer sem me preocupa se aquilo pode me matar.
Correr sem obrigação.
Dormir sem ter hora pra acordar.
Beber sem me importar com a ressaca no dia seguinte.
Me apaixonar sem medo de me magoar ou magoar alguém. E depois cair na realidade e ver que isso é impossível.
Viver o momento.
Não me levar tão a sério, e nem levar a vida tão a sério.
Tentar escrever uma música e não conseguir.
Desejar e não conseguir escrever coisas diferentes das palavras de um diário adolescente.
Tomar banho de chuva sem ter medo de adoecer.
Prometer que amanhã tudo será diferente.
Perceber que a diferença começa em mim e não nos outros.
Tomar chocolate quente enquanto o mundo acaba.
Perceber que o passado não importa, a menos que você se importe. E que o que vem pode ser bom ou não, mas jamais deve-se privar de tentar fazer melhorar.

“Quero sobreviver, desejar e tentar ter tudo, mesmo que não alcance nada. Já terá valido a pena pelo simples fato de se ter tentado.”

terça-feira, 19 de abril de 2011

Azul

-E certo dia acordei e já não sentia mais frio. No lugar dele havia um calorzinho vivificante que parecia vim de dentro. Levantei-me e fui ver o mundo lá fora. Já não havia trevas, somente um grande azul. Deitei-me na grama verdíssima e contemplei o céu por um momento, depois fechei os olhos e agradeci a mim mesmo por mesmo depois de tantas trevas, eu ainda me permitir sonhar. Sonhar com dias melhores.
Repentinamente um frio desesperador me trouxe de volta à realidade. Havia acordado, o sonho acabara, lamentavelmente.