quinta-feira, 14 de abril de 2016

O menino morto


Menino morto, do olhar vazio, madrugadas em claro, das lágrimas no travesseiro.
Menino morto, da alma gélida, coração sangrante, do sangue na pele.
Menino morto, dos cigarros de fuga, bebedeiras de esquecimento, das ressacas de lembrança.
Menino morto, da sexualidade afirmada, das brigas vigorosas com a família, dos festivais de drogas constantes.
Menino morto, que voara alto, caíra num piscar de olhos, estatelou-se.
Menino morto que um dia sonhara em ter um pouco, conquistara um tanto, desistira de tudo.
Morrera desde então.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Escarlate



É difícil de explicar, a dor que costumo sentir é mais forte do que a vontade do viver. É tão profunda e maior que eu, que precisa ser posta para fora, é necessário. Transferência de dores nessas horas só parece algo banal, algo de alguém que só quer atenção, mas está longe disso.
Grito nenhum resolveu, choro nenhum amenizou, já rezei aos céus, já pedi inúmeras vezes pra que passasse, só eu sei o quanto já pedi, mas ela sempre esteve lá. Ora na lágrima que escorreu dentro do ônibus na volta pra casa, ora nas noites em claro enterrando meu rosto em travesseiros para abafar o som do pranto.
Já tentei ser apático quanto a isto, mas ela, a dor, sempre está lá. Cutucando, subindo em minhas costas, gritando nos meus ouvidos um grito que só eu ouço. Agonia, cansa, desespera.
Liberar o líquido escarlate que corre e pulsa dentro das minhas veias me faz transferir a dor, esquecer, me purificar, me punir.
Por um momento esqueço a dor emocional, o “querer morrer”, e me foco na dor física que sinto enquanto observo o sangue sair das fendas recém-abertas e escorrer por meu braço. Pingando.
Cortando-me sinto-me mais puro, mais justo por punir alguém que nunca quis machucar ninguém, mas que sempre acaba machucando e adoece à todos a sua volta, afeta as pessoas que mais ama e que mais lhe amam.
Cortar-me é uma forma de libertação, de perdoar a mim. Mesmo que aos olhos de terceiros pareça loucura e um ato desnecessário.
Por vezes o corte é tão profundo, que o “querer morrer” só viria como um bônus. Mas para alguém que já não tem cartas no jogo, arriscar tudo não passa de um mero ato de desespero.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Deixe morrer




Fluiu, passou, doeu, feriu. Começou a sumir, evanescer, evaporar, sair de vista pouco a pouco, até que um dia não se enxergou mais.  Deixe morrer e caia fora da minha mente
O momento que outrora parecia besteira fora na realidade a cartada final. Tudo fora momento, passagem, empolgação, passou... Passou.  Deixe morrer e caia fora da minha mente
A tragédia começou no primeiro brilho do coração. Nós não nos víamos olho a olho. Não nos escutávamos ouvido a ouvido. Deixe morrer e caia fora da minha mente.
A parte mais triste não é o final tanto quanto o começo. Deixe morrer e caia fora da minha mente.

domingo, 3 de abril de 2016

Primeiro round



Felicidade. A partir de onde vale a pena ir buscá-la? Até que ponto se pode chegar para tentar alcançá-la?
Recentemente desenvolvi um quadro de depressão aguda. Muita gente com quem convivo não sabe, mas na realidade sempre tive um grau leve de depressão, porém nesses últimos meses ela veio de uma forma mais intensa.É difícil viver em constante crise consigo, a luta é constante.
Luto contra o meu corpo, que insiste em definhar em uma cama e ainda assim me privar das noites de sono tranquilo.
Luto contra meu emocional, que me traz um vazio tão grande e intenso que nenhum choro, grito ou corte pode resolver ou amenizar.
Luto contra minha mente, que tenta a todo custo melhorar, mas ao mesmo tempo traz-me a sensação de culpa por atingir pessoas a quem amo, e por consequência adoecê-las junto comigo.
Pouca gente entende de fato como é viver com depressão. Muitos tratam como frescura. Outros te tratam como louco. Busco apenas forças. Forças pra continuar seguindo. Motivos para não parar.
“E pra onde quer que eu fuja, eu me encontrarei. A luta será constante e eterna, e ninguém escutará a minha dor”