quinta-feira, 7 de abril de 2016

Escarlate



É difícil de explicar, a dor que costumo sentir é mais forte do que a vontade do viver. É tão profunda e maior que eu, que precisa ser posta para fora, é necessário. Transferência de dores nessas horas só parece algo banal, algo de alguém que só quer atenção, mas está longe disso.
Grito nenhum resolveu, choro nenhum amenizou, já rezei aos céus, já pedi inúmeras vezes pra que passasse, só eu sei o quanto já pedi, mas ela sempre esteve lá. Ora na lágrima que escorreu dentro do ônibus na volta pra casa, ora nas noites em claro enterrando meu rosto em travesseiros para abafar o som do pranto.
Já tentei ser apático quanto a isto, mas ela, a dor, sempre está lá. Cutucando, subindo em minhas costas, gritando nos meus ouvidos um grito que só eu ouço. Agonia, cansa, desespera.
Liberar o líquido escarlate que corre e pulsa dentro das minhas veias me faz transferir a dor, esquecer, me purificar, me punir.
Por um momento esqueço a dor emocional, o “querer morrer”, e me foco na dor física que sinto enquanto observo o sangue sair das fendas recém-abertas e escorrer por meu braço. Pingando.
Cortando-me sinto-me mais puro, mais justo por punir alguém que nunca quis machucar ninguém, mas que sempre acaba machucando e adoece à todos a sua volta, afeta as pessoas que mais ama e que mais lhe amam.
Cortar-me é uma forma de libertação, de perdoar a mim. Mesmo que aos olhos de terceiros pareça loucura e um ato desnecessário.
Por vezes o corte é tão profundo, que o “querer morrer” só viria como um bônus. Mas para alguém que já não tem cartas no jogo, arriscar tudo não passa de um mero ato de desespero.

3 comentários:

Unknown disse...

Você está bem?

Unknown disse...

Você está bem?

Unknown disse...
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